sábado, 2 de janeiro de 2010

A negação de um não

Um não, não é palavra fácil de pronunciar. De facto ao pensarmos nisso é bem capaz de ser das palavras mais desprezadas do momento; a sua carga social é tal que o pólo verbal lida mal com o seu significado. A palavra é aplicada sempre pronunciada em tempo de guerra verbal e gramática; não me consigo lembrar de uma situação onde a negação se aplique de forma inocente ou sem a malícia de uma sentença. É isso, o não é uma sentença. Como se pode então sentenciar sem a negativez. Poderíamos pôr a hipótese narrativa de uma situação de um principio numa relação amorosa. Dois amantes, em clima de sedução e intimidade. O Mário propõe à sua amante (no sentido da pessoa que ama e não o pejorativo que arranjámos, para a descrição de outro termo, quanto a mim mal aplicado) um beijo. No enquadramento da relação jovem, "in"consumada, envergonhada e talvez recente. Esta poderia, de facto, ser uma situação de primeiro beijo. Renitente em aparentar facilitismo, ou rendição óbvia, a Joana nega-se ao beijo, mesmo apesar das doces palpitações, borboletas e do arrepio do sopro amoroso. O seu amante retorque elogiando, ambicionando, desejando cada centímetro daqueles lábios carnudos e aveludados (e como quer ele sentir o veludo daqueles lábios!). A Joana, já tivera um caso de desilusão de um investimento prévio recente doutra relação em que sofreu e agora quer deixar aquele jovem aos seus pés antes de poder ceder e retorque negativamente até ao desespero de ambos (e quando finalmente cede, não existem instrumentos de uma orquestra suficientes para uma expressão do misto de emoções que percorrem aqueles corpos).
Ora aquele não, apesar de contrário à sua forma mantém uma conotação que implica pouca inocência quando toca ao tom, a jovem espera poder armadilhar o "seu amor a ser", isto implica uma estratégia e não existem estratégias inocentes, não na guerra, muito menos no amor. Nunca sem a procura de um benificio próprio que é primário à nossa sobrevivência; apesar daquele não ser um sim chorado ao mundo, tem ainda no final a sua conotação negativa.

Acho que não é desta, não vou descobrir a inocência da palavra. Perante um tribunal conjugal verbal e gramatical, aquela palavra é então condenada à sua negação eterna.

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